O abate de dois guarás pelo biólogo Louri Klemann Júnior na APA de Guaratuba revelou que a “coleta” de animais para pesquisa é uma prática muito difundida no Brasil, mas que tem importantes opositores, inclusive no meio científico.
Coleta é a expressão sugerida pelos que defendem o abate de animais silvestres para pesquisa. A expressão “licença para matar” é repudiada.
Para os defensores da prática, quando um pesquisador mata um animal diferente do qual estava autorizado a matar ele fez uma “coleta imprevista”. Sua punição é ter de anotar o fato na licença ou autorização.
Não é esta a opinião do presidente do Conselho Regional de Biologia do Paraná, o IAP, de grande parte da opinião pública e de alguns cientistas.
Em virtude de utilizar a expressão e por anunciar a publicação de uma reportagem vinculando pesquisa científica com tráfico de animais, o e-mail do Correio foi bombardeado por mensagens, a maioria delas de biólogos indignados com o jornal, algumas ofensivas, muitas também trazendo novas denúncias e outras, com valiosas contribuições sobre a importância do trabalho de pesquisa zoológica. Os leigos que escreveram ao jornal criticaram os “matadores de passarinhos”.
Entre as contribuições, destacamos a participação do “autodidata em Ornitologia
” Fernando Costa Straube, que fez críticas ao Correio do Litoral e que acabou contribuindo com preciosas orientações, inclusive corrigindo erros.
Fernando C. Straube afirma que conhece bem Klemann Júnior e defende o biólogo, assim com o abate de animais com fins científicos. Sua primeira preocupação foi evitar a vinculação de Klemann ao tráfico de animais, o que o Correio equivocadamente pode ter sugerido.
Outra fonte valiosa, foi a bióloga Luciana Witovisk, que também defende a coleta científica, critica a expressão “licença para matar”, refuta qualquer vinculação entre pesquisadores e traficantes, mas que acha que o erro de Klemann Júnior precisa sem bem investigado.
“Como um biólogo coletor experiente, envolvido sempre em pesquisas sérias de conservação se engana assim e duas vezes? Não foi um erro, foram dois e em seqüência. Investigação é a palavra. A sociedade pede isso, biólogos merecem isso”, afirma Luciana.
Campanha contra “sensacionalismo”
A repercussão da morte dos guarás provocou a reação do biólogo Alexandre Aleixo, do Museu Emílio Goeldi, de Belém (PA). Para Aleixo, o presidente do CRBIO-7 prejudicou a Zoologia no Brasil
ao questionar o abate de animais.
Num texto publicado pelo Correio do Litoral.com, Aleixo destaca que os guarás mortos são de cor escura e propõe uma campanha para rebater as matérias negativas. “Temos que ativamente buscar espaço na imprensa e quaisquer foros para réplicas, esclarecimentos, retratações e ações afins, sempre que a coleta científica tiver uma cobertura parcial e sensacionalista, que contribui para repercuti-la negativamente junto à opinião pública”, conclama.
O pesquisador constata que no Google o nome do biólogo paranaense ficou vinculado a um crime que segundo ele não aconteceu.
O próprio Alexandre Aleixo também aparece no Google de forma negativa. Ao digitar seu nome aparece uma entrevista que ele concedeu à revista “Época” com o título “Alexandre Aleixo – O matador de passarinhos”. A foto que ilustra a matéria é do pesquisador segurando um passarinho empalhado.
Na entrevista Aleixo conta que a morte de animais para pesquisas está proibida na Europa, que há grupos contrários e até radicais contra a prática e que o Brasil é um dos países que as coleções de animais mais cresce no mundo.
Aleixo explica e defende a necessidade de coleta de animais, mas, diferente da defesa que faz agora, ele diz à revista que o abate só é justificado no caso de descoberta de novas espécies: “O sacrifício só é empregado nos casos em que nem os especialistas sabem identificar com certeza um determinado animal. Ninguém usa o sacrifício indiscriminadamente para identificar espécies que podem ser reconhecidas por outros meios. A morte é um último recurso”, afirmou na ocasião.
Conselho vai aumentar fiscalização
Os erros de Klemann e a própria “licença para matar” foram questionados firmemente pelo presidente do Conselho Regional de Biologia da 7ª Região - Paraná (CRBio-7), Rogério Duílio Genari, que levou o caso ao conselho de ética da entidade.
Genari disse que se for confirmado que houve intenção de matar vai pedir a cassação da licença de Klemann e denunciá-lo ao Ministério Público. “A mim causa estranheza ele ter confundido as espécies. Alguém que só estuda isso não pode cometer esse erro. Se ele não tinha certeza, por que atirou mesmo assim?”, disse em entrevista ao jornal Gazeta do Povo. Correio conversou com Genari por telefone e ele confirmou suas posições a respeito do caso e da própria coleta para fins científicos. O CRBio-7 deverá criar, a exemplo de outros conselhos regionais e do Conselho Nacional de Biologia, um órgão permanente para analisar todas as solicitações de coletas.
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